Uma possível cura para o diabetes tipo 1 se aproxima, graças às células-tronco

Um novo tratamento experimental à base de células-tronco demonstrou potencial para curar o diabetes tipo 1 em pessoas com formas mais graves da doença. Em um pequeno estudo clínico, 10 dos 12 pacientes tratados deixaram de precisar de insulina um ano após receber uma única infusão da terapia. Os dois demais passaram a necessitar de doses muito menores.

O medicamento, chamado Zimislecel, foi desenvolvido pela empresa norte-americana Vertex Pharmaceuticals, sediada em Boston. A terapia utiliza células-tronco manipuladas para se transformarem em células das ilhotas pancreáticas, responsáveis por regular os níveis de glicose no sangue. Após serem infundidas, essas células migraram para o fígado e ali se estabeleceram.

Os resultados foram apresentados na reunião anual da American Diabetes Association e publicados simultaneamente no periódico científico The New England Journal of Medicine.

Diferente do diabetes tipo 2, mais comum e geralmente diagnosticado na idade adulta, o tipo 1 exige um controle rigoroso e constante, além de custos elevados. O descontrole da glicose pode gerar danos no coração, rins, olhos e nervos. Já uma queda brusca no açúcar do sangue pode causar desmaios, convulsões ou até a morte.

O estudo focou em pacientes com uma complicação específica chamada hipoglicemia sem percepção, condição em que a pessoa perde os sinais típicos de alerta para uma queda nos níveis de glicose, como tremores ou suor. Isso os deixa vulneráveis a episódios graves e inesperados de perda de consciência.

Os pacientes do estudo começaram a reduzir a dose de insulina poucos meses após receberem as novas células. Em cerca de seis meses, a maioria já havia suspendido completamente o uso do hormônio. Além disso, os episódios de hipoglicemia desapareceram nos primeiros 90 dias após a infusão.

Entretanto, há um ponto de atenção importante: os pacientes precisam tomar medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição das células implantadas, o que eleva o risco de infecções e, a longo prazo, pode aumentar a chance de desenvolver câncer. Embora a supressão usada nesse caso pareça menos agressiva do que em transplantes de órgãos como rins ou coração, isso só poderá ser confirmado com estudos de longo prazo.

A Vertex afirmou que, até o momento, os pacientes precisarão tomar imunossupressores pelo resto da vida.

Esse avanço é fruto de mais de 25 anos de trabalho iniciado por Doug Melton, pesquisador de Harvard que se dedicou à busca por uma cura após seu filho de 6 meses e, depois, sua filha adolescente serem diagnosticados com diabetes tipo 1. Com um time de cerca de 15 pessoas, Melton e colegas passaram duas décadas tentando encontrar a combinação química ideal para transformar células-tronco em células beta.

Com os resultados em mãos, Melton buscou uma empresa capaz de levar a tecnologia até os testes em humanos. Ele se juntou à Vertex, que assumiu o desafio.

O primeiro paciente a receber a infusão experimental foi Brian Shelton, em 2021. Shelton sofria com quedas súbitas de glicose que o faziam perder a consciência, em uma ocasião, bateu sua motocicleta em um muro; em outra, desmaiou enquanto entregava correspondências. A infusão o curou, mas ele faleceu algum tempo depois por complicações de demência que já existiam antes do tratamento.

Fontes: The New York Times / New England Journal of Medicine

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