Respirar deveria ser o gesto mais simples e vital da vida. Mas em tempos de cidades tomadas por fumaça e partículas invisíveis, esse mesmo ar pode estar acelerando o apagamento da mente. Pesquisas recentes apontam uma conexão direta entre poluição atmosférica e o avanço do Alzheimer.
O cérebro não é impermeável ao que flutua do lado de fora. As partículas finas liberadas por veículos, indústrias e queimadas conseguem atravessar barreiras biológicas, chegar à corrente sanguínea e, finalmente, ao sistema nervoso. Lá dentro, deixam rastros de inflamação e depósitos tóxicos que intensificam a degeneração cognitiva. O resultado é cruel: quem vive em áreas com ar mais poluído pode ter memória e autonomia comprometidas mais cedo.
O dado que mais choca é a velocidade. Mesmo um curto período de exposição já pode acelerar a doença, ampliando sintomas como falhas de memória, dificuldades de julgamento e dependência precoce em tarefas simples. Não se trata apenas de quem mora em grandes metrópoles sufocadas. O problema se espalha em todas as regiões onde respirar virou um ato de risco.
Especialistas alertam que combater a poluição não é mais apenas uma pauta ambiental ou climática. É também uma questão urgente de saúde pública e justiça social. Cada nova partícula lançada ao ar pode significar mais um neurônio perdido, mais uma lembrança apagada, mais uma vida que desliza para o esquecimento.
O recado é incômodo, mas inevitável. Lutar contra a poluição é também lutar contra o Alzheimer. A pergunta que fica é: quantas memórias ainda vamos permitir que se dissolvam no ar que respiramos?
Fonte: JAMA Neurology / University of Pennsylvania